É, deixei este título mesmo. Tá difícil comentar este filme, Palma de Ouro em Cannes em 2010… Quando li a resenha, não tive dúvidas de que tinha de ir ver. Temas espiritualistas me interessam muito, gosto do cinema (e da filosofia) oriental. E as críticas eram totalmente favoráveis. Nestas horas, é uma vantagem morar no Rio de Janeiro: estava sendo exibido perto de casa, no cinema, melhor lugar para assistir a um filme destes em que a fotografia e a sonoplastia fazem diferença.
Infelizmente, só encontrei o trailer com legenda em inglês.
Resuminho básico: Tio Boonmee está à morte, sofrendo com insuficiência renal. Chama a cunhada para ajudá-lo nos seus dias finais. Ele mora em uma fazenda dentro de uma floresta na Tailândia, tem um ajudante para cuidar da sua saúde, mas que logo parte, sem que apareça sua despedida. Viúvo, Boonmee quer passar seu testamento à cunhada, que tem duas filhas. Seu filho único sumira há anos. Na noite em que a cunhada chega acompanhada de outro parente, surgem visitas inesperadas: o fantasma da ex-mulher e o filho, que virara um macaco fantasma há alguns anos e tinha sumido sem dar notícias.
Tio Boonmee segue a tradição budista e tem uma explicação religiosa para sua doença, pelos seus atos nesta vida. A cunhada o acalma, dando outro significado a eles, dentro da própria tradição. Vivendo na cidade, ela já não se atormenta com algumas questões como Boonmee, que se culpa por matar insetos (o que para hinduístas e budistas gera mau carma).
Na tradição oriental, idosos costumavam passar seus últimos anos na floresta, o que não é exatamente o caso dele, que trabalha até o fim, não tendo se recolhido para meditação, como se fazia antigamente. Mas, nos instantes finais, é para o meio da floresta que Boonmee vai, acompanhado de seus parentes. (Algo totalmente improvável, por exemplo, de acontecer em uma família ocidental, que tivesse alguém na família que precisasse de drenagem renal). Ao chegar em uma caverna (lindíssima, por sinal), relembra ter nascido ali em uma outra vida. Mais uma vez, não são dadas muitas explicações de porquê – ou para quê – ele voltou ali, quem são as outras presenças. Mas fecha-se o ciclo daquela vida. Só que o filme ainda não acaba ali e a sequência final é ainda mais inusitada.
Se você for conferir no cinema, vá preparado. O filme é lento e na sessão a que assisti (com sala lotada), umas 5 pessoas saíram antes do final. Para quem está acostumado a um cinema americano, mastigadinho, ou até aos filmes brasileiros, espiritualistas mas doutrinários, vai sair com muitas interrogações. N
O filme é cheio de simbolismos, nem todos facilmente compreensíveis, mesmo para quem tem conhecimento sobre as tradições hindu ou budista. As vidas de Boonmee surgem igualmente sem muitas explicações, sem que se possa identificar realmente quem era ou a finalidade daquela experiência, tudo muito misturado com um simbolismo que não é fácilmente digerível para o público ocidental. a resenha do Artplex, está rotulado como Drama. No site do Uol Cinema, como Fantasia. 😀
Parece que não era esta uma preocupação do diretor . 🙂 Pode ser que seja justamente esta a proposta: sair da linearidade, aceitar o simbolismo sem racionalizar tanto, tentar superar maya.
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Thays Babo é Mestre em Psicologia Clínica e atende no Centro do Rio