Espaço Psi-Saúde Site & blog da psicóloga Thays Babo

28/05/2010

Teste de fidelidade tosco


No final dos anos 80,  Atração Fatal, dirigido por Adrian Lynn, criou polêmica. Tornou Glenn Close famosa e antipática para alguns, até hoje, por seu papel. A trama tratava de fidelidade.  Ou melhor, de infidelidade.

Em um final de semana em que a esposa estava fora, Dan Gallagher (interpretado por Michael Douglas) tem um rápido affair com Alex Forrest (Glenn Close). Como ele não quis dar continuidade ao caso, Alex perseguiu Dann até as últimas consequências, revelando-se uma total desequilibrada, com as situações mais grotescas e pavorosas.

Até hoje o filme é citado – com humor ou pavor – quando se fala de traição, para alertar dos riscos que uma simples escapadela encerra em si mesma.

Quando O preço da traição entrou em cartaz, com um elenco de primeira (Julianne Moore, Liam Neeson e a jovem Amanda Seyfried, mais famosa por aqui após Mamma Mia), não pensei duas vezes em conferir. O título original não entrega tanto a sinopse e nem é moralista: é o nome de uma personagem – Chloe. 

Sinopse

Não sabia que era um remake de um filme francês. O título em português não deixava dúvidas sobre do que se vai tratar: traição. Mas, desde as primeiras cenas, antipatizei com a protagonista, a excelente Julianne Moore, o que se manteve até o fim do filme. (Aliás, nenhuma das personagens me despertou particular simpatia).

Resumo sem spoiler: Catherine (interpretada por Julianne Moore) começa a desconfiar da fidelidade do marido, David (Liam Neeson), que demora a chegar para sua festa surpresa.Bem, se a 
festa era surpresa, por que tanto barulho?

Catherine fica insegura ao constatar o pavor do marido com seu próprio envelhecimento. Assim, decide  fuçar seu celular do marido – o que é sempre péssima ideia. 

Paralelamente a isto, sabe-se lá porque, o filho do casal é totalmente indiferente à mãe, beirando à rebeldia.

Aviso: quem ainda não viu o filme – e que não gosta de saber o final da história – deve parar por aqui.



O filme é confuso, poderia ter sido um  thriller, ou algo gênero ‘Atração fatal'”. Nada disto: a trama dá uma embolada no final e logo vêm os créditos finais.

Quem são estas personagens?

Chloe não fica bem delineada. Poderia ser uma carente, poderia ser uma sociopata – aliás, foi nisto que apostei, na medida em que contava para Catherine coisas que ela não queria saber.

Nada na personagem era consistente. Mas fica a impressão de que na versão norteamericana, os roteiristas foram maniqueístas.

E David? Depois de todas as turbulências e trapalhadas em que Catherine se mete, ele é o mais centrado e honesto do trio. 

A melhor cena do filme é Catherine se abre e fala das suas emoções e inseguranças. Fala do pavor do próprio envelhecimento.

E, ao mesmo tempo em que o envelhecimento da mulher pode ser apavorante, para alguns homens pode ser mais atraente.  

Então o que O preço da traição nos deixa? Plagiando um antigo psicólogo brasileiro, diria que a principal mensagem é que ‘sem comunicação, não há solução’.

Outras seriam:

  • Ciúme é uma droga – que não deve ser provada ou estimulada, nem por brincadeira’;
  • Em caso de crise no relacionamento, busque ajuda psicoterapêutica.

 

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Thays Babo é Psicóloga Clínica e atende em Copacabana a jovens e adultos em terapia individual, terapia de casal ou pré-matrimonial. Durante a pandemia, atendimentos são prioritariamente online.

Mestre pela Puc-Rio, tem formação em TCC, extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso pelo IPq (USP), e é associada da ACBS (Association for Contextual Behavioral Science).

Atualmente, cursa a formação em Terapia do Esquema pela Wainer.

27/05/2010

Disciplina, disciplina, disciplina

Filed under: Espaço Psi-Saúde — Thays @ 16:24




Mais de um mês depois da estreia, fui conferir o filme que conta a história de Chico Xavier. Médium mineiro, popularizou o espiritismo no Brasil ao publicar centenas de livros. Tornou-se uma das figuras mais controversas da história do país. Foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz, mas, infelizmente, faleceu sem ter este reconhecimento de seu trabalho. Talvez tenha sido melhor assim e nem lhe agradasse tanto holofote. O reconhecimento das massas certamente lhe era mais caro.


O filme atraiu não só os espiritualistas e os kardecistas. Muitos céticos que compareceram gostaram do tratamento cinematográfico deste homem carismático, interpretado em sua juventude por Angelo Antonio. Para interpretá-lo, da maturidade ao fim da vida, Nelson Xavier assumiu o papel. O resto do elenco está ótimo – especialmente Tony Ramos e Cristiane Torlone – fazendo valer o ingresso mesmo para os que são descrentes. A interpretação de Emmanuel, guia espiritual de Chico, poderia ter recebido uma direção mais simpática. Talvez a escolha tenha se dado para reforçar a importância da disciplina frente a uma missão tão especial, mas penso que uma atuação tão seca e formal pode ser algo que afaste mais do que atraia admiradores. Mas esta minha impressão pode ser porque eu não li as biografias de Chico – só fui leitora de parte de sua obra. Vai que o que se diz sobre os seres iluminados – que estão sempre bem humorados e felizes – não se aplique genericamente a todos…? 😉


A ênfase na disciplina fica clara logo no primeiro encontro ‘face a face’ (se é que podemos dizer assim), entre Chico e Emmanuel. Quando Chico enfim consegue ver seu guia, lhe pergunta do que precisaria para dar conta de sua missão. Emmanuel responde: “Em primeiro lugar, disciplina. Em segundo lugar, disciplina. Em terceiro lugar, disciplina”. Nada fácil, mas Chico tirou de letra.





Que Chico era um poço de generosidade, todo mundo sabia. E o filme mostra também uma faceta bem humorada do médium, até em um dos pontos que muitos se apegam: o simples fato de ter comprado uma peruca faz muitos detratores do espiritismo enfatizarem um possível lado vaidoso do médium. Vale ver a resposta de Chico à interpelação de Emmanuel sobre a ‘excentricidade’ de usá-la.


Acreditando ou não em múltiplas existências, vale a pena ver o filme. Talvez o único problema para quem não entende bem o tema – ou para os que duvidam da veracidade de tudo – é o excesso de cenas em que Chico colabora para afastar espíritos obsessores – que se assemelha bastante ao que foi descrito nos Evangelhos, como prática de Jesus. Para quem opta pelo ceticismo, assistir permite entender um pouco da história recente da religiosidade de nosso povo. E vale lembrar que o trabalho de Chico Xavier também influiu em casos da justiça brasileira, o que, no mínimo, rende bons papos entre amigos …



[flash http://www.youtube.com/watch?v=lARKuVJFStQ]

15/05/2010

Tudo que funciona

Tudo pode dar certo, de Woody Allen, virou unanimidade entre os fãs brasileiros do diretor, mesmo sem ter sido sucesso nos Estados Unidos, talvez pela visão acidamente ‘pessimista’ do protagonista. Boris Yellnikoff – porta-voz da vez de Woody Allen – é interpretado por Larry David , co-autor da série Seinfeld. É possível que as bilheterias fracas se devam, mais uma vez, ao fato de Allen mirar sobre a sociedade americana e suas hipocrisias para disparar suas críticas.

Mas, vamos à história: o filme mostra o improvável encontro de um professor universitário, Boris, e uma linda jovem americana, interiorana. Mal humorado, ateu e pessimista, Boris já tentara suicídio, quando casado, tendo ficado manco em consequência disto. Obsessivo compulsivo, ele acolhe em sua casa uma jovem interiorana, burra feito uma porta, com o insuportável nome de Melodie St. Ann Celestine – que mostra bem o quanto sua família de origem é religiosa. Melodie pede para ficar uma noite e vai ficando várias – até se instalar de vez na vida de Boris, que se revela menos durão do que parecia a princípio.






Este inusitado casamento completa um ano, para a estupefação dos amigos de professor. Seria improvável que durasse muito, não pela diferença de idade, mas pela arrogância intelectual de Boris. Achando-se extremamente inteligente (nem sabemos se ele é) , Boris tripudia de seus alunos – crianças a quem ensina xadrez. E não faz diferente com Melodie, não a poupando por sua ingenuidade e ignorância. A ignorância da jovem, neste caso, é uma bênção: ela não sofre por isto! Simplesmente porque não o entende. Pelo contrário, o admira profundamente e absorve o que ele fala; sai repetindo, como um papagaio, que não sabe ao certo o que reproduz. E para quem é narcisista, ter alguém que o ecoe é bastante sedutor… Aos poucos, ambos vão se modificando no convívio diário. Afinal, como con-viver e se manter igual?

É então que a mãe de Melodie a reencontra, em Nova Iorque. Recém separada, fica extremamente decepcionada com a escolha da filha e resolve intervir. Afinal, projeta na filha (que tem uma beleza angelical, digna do nome, e que já fora premiada em vários concursos) tudo o que ela mesma não tinha conseguido realizar. E, ao longo deste processo de intervenção, a mãe vai ela mesma se modificando, em contato com os intelectuais nova-iorquinos. E, de repente, o pai de Melodie também reaparece. Fica também decepcionado com a escolha da filha, de queixo caído com as mudanças da ex-esposa mas, ele mesmo vai passar por grandes mudanças…

Tudo isto é dirigido com um ritmo acelerado. Em pouco mais de uma hora, muitas reviravoltas na vida das personagens acontecem, sem que descambe para o drama, em momento algum. Pelo contrário, é deboche puro. Nem as separações são tratadas de forma melancólica. No final, fica a sensação de que é uma outra brincadeira de Allen, com os clichês dos clichês, que Boris faz questão de denunciar. Visto pelos olhos de Allen, toda a sociedade americana é altamente caricaturável… E com as legendas do trailer abaixo, ainda mais risível





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Thays Babo é psicóloga, Mestre em Psicologia Clínica pela Puc-Rio e atende no Centro.

12/05/2010

Clichê do clichê

Dizer que ‘o tempo voa’ é um clichês dos mais manjados. Mas, nos últimos meses, tem sido o ‘mantra’ que mais repito. Como compôs Chico, em Almanaque, “a ampulheta do tempo disparou”. To sempre me desculpando com amigos e parentes para quem ando sumida…


O blog tem refletido isto: quase não tenho postado, desde a época do Oscar. E assim mesmo, deixei de comentar O Segredo dos seus Olhos, Um homem sério e Um sonho possível. Destes, realmente o que mais me inspiraria um texto seria O segredo (a que assisti 2 vezes no cinema e provavelmente reverei algumas vezes em DVD). Filmaço que traz à discussão o amor, a lealdade, a amizade, o medo de se envolver e de se magoar, o senso de justiça, ética e muito mais.

Dos concorrentes, deixei por ver alguns que foram muito bem recomendados: A fita branca, O mensageiro e O direito de amar (que título mal traduzido, Dio mio). A fita ainda está em cartaz, em alguns cinemas do circuito Estação , ainda que em horários restritivos. Pelos comentários, é um daqueles que deve ser visto na telona. Prometo para breve, alguns comentários -tanto do que é bom, quanto do que é ruim – afinal, mesmo de filmes ‘bombas’ a gente pode tirar algo , como, por exemplo, o que não escolher…

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