Espaço Psi-Saúde Site & blog da psicóloga Thays Babo

16/07/2009

Doenças da moda: rótulos desejáveis?

Filed under: Espaço Psi-Saúde — Thays @ 16:24

A ‘facilidade’ com que se diagnosticam hoje as mais diversas síndromes e transtornos e a profusão de gente medicada tem sido muito discutida nos círculos psis.  Ok, os métodos diagnósticos evoluíram, tem-se uma facilidade de comunicação e maior conhecimento mas, para que tudo isto tem servido?

Em um Congresso de que participei, ouvi que a indústria que mais lucra, depois da bélica, é a indústria farmacêutica. Não tenho os números, mas quem precisar deles não deve ter dificuldades em confirmar este dado, buscando online. A informação veio inserida em uma palestra sobre Viagra, que ajuda muitos homens com reais dificuldades eretivas mas, por outro lado, atrai jovens inseguros, que não precisariam do remédio. Correm os riscos do uso inadequado justamente porque não querem pensar no que angustia nos relacionamentos em que se veem envolvidos.

 

Um indicador ‘bandeiroso’ do poder dos fabricantes se reflete na quantidade de capas que as revistas semanais dedicam ao tema: remédios antidepressivos, inibidores de apetite, talvez sejam as categorias mais visíveis. Vira e mexe estão estampados e pendurados na banca mais próxima de sua casa, estimulando a compra. Se antes era estigmatizante, hoje confere um certo ‘charme’ dizer que se está deprimido, usando remédios – para dormir, para acordar, para amar.

Algo está errado, não?

 

Não que não se possa tratar o que precisa mesmo de apoio medicamentoso. Seria desumano, seria retrógrado. E existem crises depressivas sim, obviamente. Mas quando foi que  paramos de ter condições de enfrentar a vida e as situações corriqueiras?

Muita gente procura um diagnóstico psiquiátrico simplesmente porque não se vê  dentro de um padrão de felicidade (muitas vezes só fake, de revista de celebridades, ou comercial de margarina). Fugir ao padrão midiático é algo insuportável.

 

Não vou me estender aqui neste espaço, que é apenas um blog. Seria muito pretensioso. Congressos, palestras e livros têm proposto discutir o assunto… Este texto é só uma provocação reflexiva tipo “Pare e pense: o que você está fazendo com seus problemas. Anestesiar a dor é melhor?”.

 

Esta onda de indignação em mim foi provocada por um portal bastante acessado (não vou divulgar o link para não estimular o ‘teste’) que fez uma chamada com a pergunta: “Você possui transtorno bipolar”? Fiquei realmente chocada com a displicência e irresponsabilidade do chamamento… Uma série de frases , que admitem respostas do tipo ‘sim’ ‘não’, ajudam a chegar no ‘diagnóstico’. Mas, no mesmo site, outro link leva a outra matéria onde se diz que o  diagnóstico da bipolaridade pode levar até 10 anos… Está se indo de um ponto em que era um estigma ser bipolar (o antigo PMD) para ser ‘desejável’  ter este rótulo.

 

Médicos e psicólogos ‘críticos’ apontam também  a enorme quantidade de crianças diagnosticadas com transtorno de déficit de atenção. A mesma pergunta se coloca: aumentaram mesmo? A sociedade mudou mas foi no nível psi ou neurológico?  Ou são as condições que damos às crianças, que as impedem de extravasar uma enorme quantidade de energia, que afeta onde antes era mais normal? Mais fácil dopar uma criança do que sair para brincar?

Bem, talvez seja mesmo – mas aí outra questão se coloca: estamos disponíveis para sermos pais e mães ou ter filhos é mais uma exigência social, parte do papel a se cumprir? Quantas pessoas realmente têm disponibilidade para abrir mão de si, em algumas fases, como crianças demandam?

Enfim, talvez o melhor remédio para tudo seja questionar a vida de uma maneira geral.   Dói, mas pode passar. Mesmo não passando, ‘fortalece’, sem os efeitos colaterais que a maioria das medicações traz a reboque.

07/07/2009

Caramelo

Filed under: Espaço Psi-Saúde — Tags:, , , , , — Thays @ 16:24


Exibido no Rio apenas nas salas do grupo Estação, o filme Caramelo (Sukkar Banat) merecia mais salas. Mas, sabem como é, filme que não é hollywoodiano fica restrito a um público pequeno que se arrisca a assistir uma produção franco-libanesa.

Resumíssimo, recortado e colado do site Estação Virtual: “Cinco mulheres com problemas pessoais se encontram regularmente em um salão de beleza, onde conversam abertamente.” Como já está virando hábito, lá vou eu reclamar da sinopse, que não propiciaria  motivo suficiente para sair de casa em uma noite de inverno.

Confiando mais uma vez na dica do Ricardo Garrido (do blog de cinema da Vip Exame – http://vip.abril.uol.com.br/cinema/2009/06/pra-nao-dizer-que-nao-falei-das-mocas.shtml), fui conferir, ainda que por motivações  diferentes dos que ele listou no seu texto.

Saber que a película levou os  prêmios de Melhor Filme para o  Público, Prêmio do Júri Jovem e Prêmio Sebastiane no Festival de San Sebastián 2007 (do qual não tinha ouvido falar, confesso!!! )  teve lá sua importância.  Fui sem saber ainda que tinha sido indicado ao Oscar como Melhor Filme Estrangeiro… (E viva o Google!). Atenção para todo o elenco: só a protagonista é atriz profissional. É difícil de acreditar – as idosas dão um show…

Contrariando o que se poderia imaginar de um filme libanês, não fala nada de guerras. Caramelo mostra o dia-a-dia de amigas de diferentes idades,  que vivem  em Beirute. Tem como cenário em comum o  salão de beleza,  espaço de convívio e trabalho. Entramos  em contato com uma  cultura muito diferente da nossa (a começar pela técnica de depilação da protagonista, que dá nome ao filme e é bem diferente das que usamos aqui! Mas isto é apenas um detalhe).

O cinema nos possibilita ver realidades culturais totalmente diferentes. A sociedade libanesa, em pleno século 21, ainda é bem mais conservadora do que a nossa. As externas nos mostram também que o desenvolvimento sócio-econômico anda bem distante do que vemos por aqui. Mas, não importa a latitude e longitude, as pessoas são muito parecidas, nas dores e nas alegrias… As mulheres de lá se parecem com as de cá, em suas angústias, temores – e também no apoio que oferecem e encontram em amigas verdadeiras.



Assistimos a sofrimentos por amores não correspondidos, casos de solidão, mudanças bem vindas,  ousadias, homossexualidade, solidão. Tabus como a virgindade (ainda uma questão importante por lá) e  envelhecimento são tratados sob olhar feminino: a protagonista é também  a diretora do filme, que merece ser conferido. Enfim, todos os temas são tratados de forma delicada – e com uma boa dose de humor trágico -, agradando pessoas sensíveis. Sejam homens ou mulheres.

Se quiser comentar, clique no título. Assim que eu vir, aprovo e comento.

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Thays Babo é psicóloga clínica, mestre em Psicologia Clínica pela Puc-Rio. Atende em consultório no Rio de Janeiro.

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