Espaço Psi-Saúde Site & blog da psicóloga Thays Babo

21/01/2009

Rebeldes com causa

Filed under: Espaço Psi-Saúde — Thays @ 16:24

Há  18 anos foi aprovado o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Agora temos alguns anos para aprendermos as novas regras. Só que as reclamações não param, principalmente entre o pessoal mais velho – que já achava difícil aprender e agora é desafiado a desaprender e aprender novas regras.

Algumas pessoas dizem que não vão aderir. Gostaria de poder ser ‘rebelde com causa’, mas até por conta da minha profissão (aliás, das duas formações: Comunicação e Psicologia), não posso me dar a este luxo. Perdoem os erros que eu vier a cometer aqui, por força do hábito.

O que mais me entristeceu neste acordo foi a queda do trema. Gostei da reincorporação das letras ‘estrangeiras’ (K, W, Y)  mas, e as novas regras do hífen? Achei pavorosas. Os acentos diferenciais, que pouca gente sabia mesmo usar, caíram. Mas nem todos! Então, a confusão vai continuar ou piorar.

Foi dito que o acordo – com letra minúscula propositalmente, para não prestigiar 😉 –  surgiu para evitar prejuízos comerciais ao Brasil e demais países que falam o Português. A Torre de Babel continua firme e forte.

Mas não posso deixar de considerar uma medida burra. Não seria  mais simples ter bons revisores para os tais acordos? A medida acaba de  condenar milhões de documentos, livros, jornais a uma repentina obsolescencia (já nem sei se acentuada ou não). Se você, ao ler isto, lembrar de algum bom motivo a favor do acordo, me diga…

Ah, mas pode-se argumentar que reformas já foram feitas antes, entre a minha alfabetização e a dos meus pais. A língua evolui, não podemos engessá-la. Porém, temos a questão da ecologia, mais premente agora. Não duvido muito de que algumas pessoas obsessivas vão querer substituir seus livros… Mas, acima de tudo, acho que a motivação principal não vai ser atendida: não consigo acreditar que os erros e prejuízos serão extintos!

E você? Vai aderir a qual das causas?

19/01/2009

Maysa

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Ao longo de 2 semanas, o país ficou fascinado com a minissérie Maysa, exibida pela Rede Globo. Muita gente que sequer era nascida na época em que viveu, que só a conheceu indiretamente, através dos comentários da família, gente que nem tinha ouvido falar da cantora, sentou-se hipnotizada frente à telinha.

E o que encantou na novela? Terá sido  apenas o ‘padrão globo de qualidade’, com produção e escalação do elenco impecáveis? O  carisma da atriz que encarnou a protagonista, Larissa Maciel, até então desconhecida aqui no Rio e que deve despontar para o sucesso?

Tenho quase certeza de que não. O que gerou comentários apaixonados (espalhados em blogs, comunidades e artigos de jornais) é a força da mulher Maysa. Uma mulher que ousou, foi contra a sociedade em busca do que considerava certo para si. Que abriu mão do conforto de um casamento – coisas que mesmo em pleno século 21, muitas mulheres ainda perseguem. Por isto, incomodava tanto nas antigas gerações, porque mostrava que seria possível, sim sobreviver. Logicamente, a minissérie deve ter filtrado muita coisa e glamourizou aspectos da cantora, com os quais seriam difíceis de conviver, na ‘vida real’. Ainda assim, a história da cantora despertou curiosidade e empatia na audiência.

Obviamente sempre há quem critique os ‘rebeldes’ da sociedade, dizendo que é melhor não investir em programas que retratem uma personalidade assim, que vai servir de ‘mau exemplo’. Bobagem. Sendo uma história real,  merece ser contada e conhecida, servindo de exemplo – seja para o que for.

Meu palpite é que  o que magnetizou a audiência foi a relação mãe-filho. A gente assistia assombrada às dificuldades de Maysa em conciliar o seu papel de cantora e mulher com o de mãe. Em uma sociedade, como a nossa, na qual a maternidade é considerada uma bênção, a ser honrada, e da qual sempre se espera sacrifício da mulher, a ‘padecer no paraíso’, a gente se tomava de dores pela dor e saudade do filho, Jayme Monjardim. Ao dirigir a minissérie, provavelmente muito do que ainda restava assombrando, provavelmente foi elaborado. Seus dois filhos (portanto netos da Maysa) o representaram, em diferentes épocas, e provavelmente puderam experimentar o que seu pai sentia na pele a cada abandono da mãe.

Soube de muitas pessoas profundamente tocadas por esta dificuldade, esta distância mãe-filho. O amor existia, não da forma ‘padrão’, nada que a deixasse suficientemente tranquila para abdicar de sua vida profissional e amorosa, do seu aspecto fêmea, para ser apenas mãe – que muitas vezes, e principalmente naquela época, deve renunciar à sua sexualidade. É o conflito entre o aspecto mulher (Afrodite-Vênus, na mitologia greco-romana) e o aspecto mãe (Deméter-Ceres), com que a maioria das mulheres contemporâneas se confrontam e desesperam. Qualquer sacrifício, a um dos dois aspectos da feminilidade, pode trazer muita frustração. É um preço a ser pago na escolha, seja por conciliar, seja por abdicar.

Em muitos momentos, a minissérie lembrou-me um trabalho analítico, profundo. Remeteu-me também as “Constelações familiares”, de Bert Hellinger.

Os tradicionalistas talvez nunca tivessem conseguido como Jayme Monjardim, perdoar sua mãe, reconhecê-la nas suas possibilidades e inteireza, aceitando-a. Estariam ainda paralisados, queixando-se do abandono, dos traumas, deixando a vida passar. Não foi o que ele fez e o resultado todo mundo pôde ver: com todas as dores e cicatrizes emocionais, o futuro dele foi tão brilhante quanto o que ela desejou e acalentou.

17/01/2009

Alta rotatividade

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Em minha primeira carteira de trabalho havia um texto, logo nas primeiras folhas, que dizia que registros profissionais falam muito de quem a portava. Nele era apontada a relação entre o tempo de emprego e personalidade. Assim, segundo podia-se interpretar, quem permanecesse no mesmo emprego longos anos  seria analisado  como alguém confiável, com estabilidade. Seria o que se dizia:  alguém que ‘vestia a camisa da empresa’. Lembro do meu pai ter me falado o mesmo, fazendo recomendações quando fui pro primeiro estágio.

Como profissional liberal, não sei dizer se o texto permanece na CTPS. Se mantido, está anacrônico. Lembrei dele hoje ao ler o artigo de Tom Coelho que, ao descrever o mercado de trabalho hoje, propõe reflexões interessantes, como quando fala em “promiscuidade corporativa” (no texto disponível em   http://www.tomcoelho.com.br/artigos/artigos.asp?r=141&busca=amante+argentina ) . Chamaram  minha atenção as ponderações do autor sobre o que estamos ensinando aos jovens. Vale ler!

Tenho a impressão que a alta rotatividade aqui no Brasil começou com os publicitários. A saída de Washington Olivetto da DPZ e, alguns anos depois, o vôo solo de Nizan Guanaes, talvez tenham influenciado um pouco o panorama geral – estava nos jornais. Com certeza, influenciou o mercado publicitário. Atualmente, há profissionais de RH que  aconselham ao profissional que mudem, que fiquem no máximo 5 anos em uma empresa. Rodando de uma para outra, ‘somam-se competências’, ‘obtém-se uma visão globalizada’ etc etc. E outros consultores tentam vender estratégias para que as empresas retenham seus talentos. Enfim, há mercado para todos.

Como consequência da instabilidade do mercado profissional, vemos crescer o número de consultores. Alguns se lançam em busca mesmo de melhores salários e benefícios pois não contam com a ‘fidelidade’ da empresa, a ‘consideração’ que antigamente se tinha, o prestígio que se tinha no emprego quanto mais tempo de casa se acumulava. Em nome da lucratividade, a maioria das empresas se desumanizou, adotando uma política agressiva, embasada na lucratividade apenas. Aos funcionários, resta mesmo ir atrás das melhores ofertas e oportunidades. “Cada um por si”.

Não por acaso, aumenta a procura por concursos públicos – e é muito raro saber de alguém que, tendo se tornado funcionário, abra mão das “garantias”. Mas também há uma relação esquisita: conquistada a estabilidade, muita gente se acomoda. Tal qual em casamentos. Não dá para não perceber a  semelhança entre relações trabalhistas e relacionamentos amorosos contemporâneos. Talvez a motivação das crises, em ambas as áreas, seja a mesma.

Pensando a nível macro, o que mudou, depois dos conselhos de meu pai, há mais de 20 anos, e hoje?

O mundo. Seus valores. O mercado profissional. O indivíduo.

Ampliando ainda mais, vemos que a mesma ‘rotatividade’ dos empregos e talentos está presente nas diversas relações. Os laços afetivos, cada vez mais frouxos, facilitam o rompimento dos relacionamentos , tão logo nada mais acrescente. Não só com a empresa, mas com a família, nos namoros, nos casamentos.

Atualmente, há estudiosos  sobre a contemporaneidade que descrevem a sociedade “líquida”.

Alguma alternativa à vista? como cada um de nós pode ir contra a maré?

Está aberto o debate…

04/01/2009

Leia depois de ver

Filed under: Espaço Psi-Saúde — Thays @ 16:24

Se você ainda não assistiu a Queime depois de ler, último filme dos irmãos Cohen, melhor parar de ler agora e só voltar depois de ter assistido à mais nova produção da dupla.

Para mim, o filme foi uma agradável surpresa. Já tinha assistido a alguns outros da grife Cohen, mas confesso que estava meio temerosa, frente aos comentários de que era uma comédia de humor negro (tenho sérias restrições a este tipo de humor).

O elenco estelar atrai o público, mas os atores em papéis secundários também brilharam, fazendo valer a pena o ingresso.  Destaque para Brad Pitt, um personal trainer totalmente estapafúrdio e sem noção da enrascada em que estava se metendo. Fica a impressão de que ele se divertiu muito ao rodar o filme (dá até pra imaginar as gargalhadas dele se assistindo na telona).

Queime … custa um pouco a decolar. Obviamente, até isto foi calculado – o roteiro merece muitos elogios. Depois que se imprime o ritmo, o filme passa rápido, de forma divertida, usando um humor sarcástico para fazer uma crítica ácida da sociedade contemporânea. Cria tensão onde não há motivo para ficar tenso e nos choca em cenas em que só prevemos graça.  E mesmo chocados, não deixamos de rir.

O filme tem a cara da sociedade americana:  vários estereótipos estão presentes. E também não deixa de ser uma sátira aos filmes de espionagem, incluindo a eterna disputa entre CIA e FBI.

Sendo este um mundo globalizado, muito do que ali é satirizado também se encontra aqui.  São temas da contemporaneidade e o culto exagerado ao corpo é um deles. O filme começa a ganhar ritmo a partir da consulta com o cirurgião plástico (que nem seria um personagem secundário, estaria mais para terciário). E apesar de sua “desimportância”, é ele quem  incita Linda em sua busca frenética por  dinheiro para as 4 cirurgias plásticas, totalmente supérfluas. Já vimos este filme?

Linda se interessa por migalhas afetivas e busca relacionamentos pela internet, em sites de relacionamento. Possível adepta de slogans do tipo “Go for it“, ao longo das quase 2 horas de filme, passa por cima dos limites do bom senso, da ética pessoal, deixando de lado inclusive valores “intocáveis” como a amizade -tudo para conseguir atingir seu objetivo.

Já o looser Ozzie Cox, por achar que não foi reconhecido profissionalmente e ter sido colocado em disponibilidade, por problemas de alcoolismo, demite-se e planeja escrever um livro de memórias – sem nenhum apoio da mulher, Katie. Katie cai no riso frente aos seus planos, mas não dorme em serviço. Encarnando o estereótipo da mulher bem sucedida, mandona e sabidona, trai seu marido, não só sexualmente mas também financeiramente. Apesar de tanta esperteza, não tem a menor sensibilidade para avaliar o grau de comprometimento de seu amante (interpretado por George Clooney). Este, no entanto, tem um comportamento sexual compulsivo e seu caminho se  cruza com o de Linda, que também procura relacionamentos via internet. Há  cenas muito  engraçadas no relacionamento entre os dois.

A sucessão de confusões e bizarrices remete, de certa forma, às comédias de erros shakespeareanas – não pela leveza e final feliz, mas pelo absurdo das situações em que os personagens se metem.  Uma sucessão de erros que não poderia terminar bem – ainda que divirta os espectadores.

A riqueza psicológica das 5 personagens principais mereceria uma análise mais aprofundada. Seus relacionamentos teriam claras indicações para psicoterapia de casal, se fossem na verdade casais. O desconhecimento entre  parceiros sexuais (casados ou não)  é presente em todas as relações do filme, todos sofrendo de uma cegueira emocional. 

São caricaturas de pessoas que conhecemos, comuns. Gente que anda por aí, freqüenta nossos círculos, que quer se dar bem. Gente ambiciosa e hedonista,  pessoas que adotam máscaras sociais que não lhes caem bem. Algumas,  com o intuito de  ir além dos limites, em busca de uma pretensa felicidade.

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