Espaço Psi-Saúde Site & blog da psicóloga Thays Babo

20/12/2008

Driblando o tempo



Com a passagem de Madonna pelo Brasil, pouco se falou da música dela (que todos já conhecem, construída ao longo dos últimos 25 anos). O que mais se comentou foi sua performance no palco e  sua invejável forma física, aos 50 anos. Cheia de disposição,  Madonna pula corda, dança, escorrega, cai e levanta, ainda fazendo piada. Não perde o pique. Está driblando o tempo.

Mesmo quem não gosta de seu estilo , a reconhece como artista dedicada e com excelente marketing pessoal. Segundo a MTV, na escola, era uma aluna brilhante e, ao que  parece,  direcionou  esta  poderosa inteligência para a área certa.

Comento sem sequer ter assistido ao  show: vi alguns trechos apenas, na TV e percebi o flashback – afinal como seria possível fazer tantas acrobacias e manter a respiração, sem prejudicar a música? () Mas ouvi muitos elogios.

Para muita gente, homens e mulheres, o mais significativo foi o corpo da Madonna. Ele  significa “poxa, dá pra resistir à passagem do tempo, em forma, com pique, sendo atraente.” Sim, claro, dá, para poucos. Tem de ter disposição, genética favorável, dinheiro e foco! Nosotros, reles ‘plebeus’, podemos? Ou melhor, queremos tanto assim?

Também ouvi e li discussões  sobre a mulher contemporânea que surgiu graças à Madonna – uma mulher ousada, que desafiou a Igreja, que sempre chocou com seus desejos e hábitos, nem um pouco convencionais. Esta mesma opositora da Igreja faz questão de batizar a filha Lurdes na Igreja Católica – por ser esta sua formação. E  surpreende quando proíbe a filha de ver TV!  Continua ‘lançando  moda’ quando se dedica ao estudo da cabala, tradição judaica.

Mas o que podemos falar dela?  Seríamos os mesmos e as mesmas sem Madonna no cenário cultural ocidental?

Para você, fora a música, que contribuição Madonna deixa?  E mais: o que nela fascina tanto as diferentes gerações?

Aguardo sua opinião…

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Thays Babo é Mestre em Psicologia Clínica pela Puc-Rio, tem formação em Terapia Cognitivo-Comportamental  e atende em Copacabana a jovens e adultos, em terapia individual e de casal.

07/12/2008

Síndrome de Truman

Filed under: Espaço Psi-Saúde — Thays @ 16:24

Já ouviu falar? é mais um quadro patológico, característico da contemporaneidade. Foi descrito recentemente  em referência ao fantástico filme “O show de Truman” (1998),  que merece ser visto e revisto. Truman, interpretado por Jim Carrey, tem sua vida monitorada desde o seu nascimento e se desespera quando descobre isto. Todos sabiam, menos ele. Tenta escapar do controle, o que não é fácil.

A diferença é que no filme, o monitoramento é real. Já nos casos analisados (ver matéria online da IstoÉ –

http://www.terra.com.br/istoe/edicoes/2040/minha-vida-e-um-reality-show-medicos-relatam-casos-de-118333-1.htm ), a sensação de estar sob constante observação faz parte do quadro paranóide. Claro que somos constantemente monitorados em câmeras espalhadas nas ruas, elevadores, lojas.  A internet com as redes de relacionamento agrava este excesso de controle de privacidade – que pode ser mal usado. Mas – no geral – não há nenhum outro intuito que não a segurança e ordem sociais.

Se fica difícil reconhecer o que é delírio e o que é realidade, se ambos começam a se confundir, é hora de buscar ajuda. Muitas vezes pensamentos deste tipo prenunciam uma crise maior. E, como não existe uma fórmula de prevenção genérica, cada pessoa pede uma solução individualizada.

04/12/2008

Vicky Cristina Barcelona


Muito já se falou – e bem – sobre o genial filme de Woody Allen, Vicky Cristina Barcelona. Das críticas brasileiras, talvez a mais comentada seja a do psicanalista Contardo Calligaris, publicada na Folha de São Paulo (que infelizmente já não está mais online em 2012…). Uma outra, bem pertinente, era a da revista Vip – que também não está mais online… Está se perdendo uma memória virtual fantástica, mas enfim…

Segundo li na época, Arthur Dapieve fez uma crítica, na qual chamava a atenção para o fato do filme ter sido rodado em Barcelona por encomenda do governo espanhol… Bom, não devo ser a única a achar que isto não compromete a história, que pode se passar em qualquer cidade latina onde se tenha o mínimo de liberdade para experimentações. Sim, se for uma cidade latina é mais crível. Ou mais de acordo com os estereótipos que fazemos acerca dos latin lovers.

Espectadoras jovens, em geral, se identificam com alguma das três personagens. São muito diferentes entre si, talvez estereotipadas demais: Vicky é ‘a racional’; Cristina, ‘a emocional’ e Maria Helena, ‘a artista surtada’. Algumas vezes, a espectadora pode se ver como uma mistura delas. Renderia um bom material para análise individual até!

Por outro lado, curiosamente, não vi nenhum homem tentando se identificar com um dos dois personagens masculinos. (Nem com Juan Antonio – típico sedutor – nem com o noivo americano, um entediante cumpridor dos deveres, “burguês padrão”, cujo nome – não por acaso, esqueci.) Ou, se o fazem, não contam pra ninguém, o que é bem possível!   😉


Spoiler. Se não viu o filme, pare aqui…

No programa Saia Justa, exibido à época, uma das apresentadoras (acho que a Monica Waldvogel) disse que Vicky e Cristina voltaram para casa do mesmo jeito que chegaram à Barcelona. Discordo totalmente. Por mais que as escolhas, aparentemente, tenham sido pelas mesmas coisas que sempre escolheram, sem riscos para nenhuma das duas, o filósofo grego Heráclito já diria que “ninguém se banha duas vezes no mesmo rio“. Ou seja, não tem como passar por uma temporada daquela e ficar igual.

Allen aborda as experimentações amorosas. E a reboque fala do tédio, da mesmice dos relacionamentos, de escolhas que se repetem. Dos riscos que se corre, das surpresas que aprontamos para nós mesmos. Afinal, se aparentemente Vicky optou pela segurança de um casamento tradicional, ela sabe (e Cristina também) da sua noite de amor maravilhosa e improvisada (quer dizer, é o que o público supõe, em se tratando de Juan Antonio, vivido pelo galã alternativo Javier Bardem). E isto, certamente, muda o seu olhar sobre relacionamentos, mesmo que – por hora – ela se mantenha dentro do que tinha planejado a princípio. Ela não mais poderá enganar a si mesma, ainda que a maioria das pessoas, das mais próximas, não conheçam o seu segredo. Vicky descobriu outro lado de si mesma e a lembrança desta escapulida arranhou a princípio sua autoimagem, de mulher fiel e certinha. Antes mesmo de casar, passou a enxergar o noivo de forma crítica. Nunca mais o paraíso vai ser o mesmo. Mais ou menos como Eva que, por ter comido a maçã,  foi expulsa do paraíso, Vicky também foi.

E Cristina? Tudo igual para ela? Cristina se assemelha a tantas pessoas que a gente conhece e que os sociólogos chamam de “monogâmica em série”. Vive em busca do ideal por não se conformar em viver de acordo com o “normal”. Normal é pouco para ela. Entediada, ela corre o risco, mas cai na repetição – e também no cansaço de sempre se repetir, reiniciando tudo do zero. Nem para ela a vida vai ser igual. Ela não consegue mudar, está presa no ciclo de suas repetições, sem fazer absolutamente nada que seja, em si mesmo, diferente. Está apegada ao seu modo de ser, imprevisível (para quem?) e constante na sua inconstância.

Quanto à Maria Elena… o que dizer? Talvez seja a personagem mais estereotipada mesmo… e que não me inspirou tanto assim… Mas, aguardo comentários…

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Thays Babo é Mestre em Psicologia Clínica e atende no Centro do Rio

03/12/2008

E a aids?

Anualmente, no dia 1o de dezembro, dia Mundial de Combate à aids, são divulgados dados sobre a doença, em todo o mundo. Um bom link é http://mtv.uol.com.br/lutacontraaids/oquee , que divulga os números da doença no Brasil. Para mais informações, sugiro que navegue pelo site do Ministério da Saúde: http://www.aids.gov.br

O que intriga é: como, com tanta informação jovens e adultos, escolarizados, ainda se contaminam? Alguma opinião sobre o assunto? Apesar de não concordar com a íntegra da matéria, vale a pena ler em http://veja.abril.com.br/011008/p_096.shtml uma descrição do quadro atual.

Na minha dissertação de mestrado sobre relacionamentos amorosos, mostrei o quanto o discurso amoroso  veiculado na mídia ajuda disseminar a crença em um poder curativo do amor. “Só o amor salva” ou “o amor em si é remédio para tudo”. Pode parecer uma conclusão rasa, fatalista, que isentan o público de responsabilidade ao “digerir” o que chega via mídia. Claro que o público tem poder crítico, mas este tipo de mensagem vai entrando na mente da gente, subliminarmente… Resultado:  casais, com poucos meses (ou semanas, ou dias), acham que já conhecem o outro, que seu par  é confiável, e abrem mão da proteção, para intensificar o prazer ou mesmo dar um voto de confiança, firmando um laço.

Várias pesquisas apontam que os adolescentes usam preservativos nas primeiras relações mas, com pouco tempo, abrem mão da proteção. Proteção à própria vida, por confundir tesão com amor. Impressionante saber que os adolescentes acham que só porque existe um coquetel, a doença está sob controle e, conseqüentemente não mata. Mata, sim, infelizmente.

Mas este problema  não está restrito aos mais jovens. O quadro da aids se agravou inclusive entre os que tem mais de 50 anos, como se pode ler no site do Ministério. É uma idade crítica, de pessoas que estão saindo de relacionamentos de longa duração, que não tinham o hábito de usar preservativo em relações duradouras (o que é um risco, por si só, pois ninguém pode jurar pela fidelidade e responsabilidade do seu par, por mais que se conheça há bastante tempo. Todo mundo deve conhecer algum caso, próximo, de infidelidades entre casais estáveis) .

Sem querer descrer do amor, precisamos pensar que, em uma sociedade onde os amores são “líquidos”, escoam, não permanecem, não há como garantir que seu ou sua parceiro/a não tiveram um relacionamento com alguém que não se cuidou antes. Negar a possibilidade de um passado sexual (lembrando que aids não se transmite só por via sexual) é um pensamento infantil. Achar que nada de ruim acontece com a gente, só com os outros, é pensamento mágico.

Enfim, cabe a cada um de nós assumir que a vida sexual é para ser exercida, sim, que muitas vezes a sexualidade está desvinculada de amor e que este não é suficiente para evitar a infecção. A responsabilidade com o nosso próprio corpo talvez seja a forma mais básica de amar…


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Thays Babo é Mestre em Psicologia Clínica e atende no Centro do Rio

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